quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Crise Econômica: uma sucinta reflexão entre Say e Keynes



          Jean Baptiste Say, um conhecido teórico francês da economia do séx XIX, defendia que a oferta criava sua própria demanda (procura), pensamento que ficou conhecido como a "lei de say". Segundo Say, a produção (oferta) gera empregos, que por sua vez, gera renda para o consumo (demanda), assim, a economia tenderia sempre ao equilíbrio não havendo possibilidade de superprodução ou escassez de demanda.

         Por muito tempo, Say e a corrente do pensamento liberal na qual se insere, defendiam a não intervenção do Governo na economia, cabendo apenas a este, a regulamentação e fiscalização.

         O cerne do pensamento liberal é de que os agentes econômicos privados, movidos por uma "mão invisível, “-expressão criada por Adam Smith que apontava o auto interesse como fator principal para o pleno e ótimo funcionamento da economia. - Seriam suficientes para impedir qualquer desequilíbrio de longo prazo e ainda que houvesse alguns desequilíbrios, num curto prazo, automaticamente seriam corrigidos pelas forças do livre mercado.

    Ainda, que haja outras interpretações controversas acerca desse pensamento de Say e do Liberalismo, o fato é que após a Grande Depressão de 1929, a maior crise econômica dos EUA, que culminou numa superprodução; essa já não seria mais uma teoria irrefutável e o pensamento liberal, predominante à época, foram definitivamente expurgados, sendo deixados de lado por um longo período, já que não explicavam o porquê das crises e muito menos as solucionavam.

      Surge, então, concomitante à crise, um outro e grande pensador teórico da Economia Política: John Maynard Keynes, britânico, nascido no séc XIX e que passa a ter imenso destaque nas políticas econômicas de vários países durante boa parte do séc XX. Todo seu trabalho é voltado para o entendimento e critica das correntes de pensamento que até então predominavam, com destaque para o liberalismo econômico.

     Para Keynes, existe uma diferenciação entre demanda potencial e a demanda efetiva (que não foi levado em conta por Say), sendo esta última que de fato tem impacto na atividade econômica e na produção (oferta). Além disso, pontua outro papel da moeda -até então, não ponderada pela teoria de Say - quando a moeda passa a ter outras funções para além da referência da unidade de valor e de troca.

   A moeda pode ser também usada como reserva de valor afim de obtenção de rendimentos ocasionando entesouramento em troca de uma taxa de juros, observou Keynes, não se destinando estritamente para financiar a produção ou consumo como o previsto na lei de Say.

      Keynes ganha notoriedade e se torna polêmico quando defendeu que o Governo deveria, de forma pontual, intervir afim de encerrar o ciclo depressivo da economia, somente desta maneira uma economia conseguiria sair de uma crise econômica. A grande polêmica do seu pensamento era que ação incorria em aumento de gastos por parte do Governo, justamente quando não se deveria gastar.

      Não era razoável imaginar um Governo aumentando seus gastos tendo sua arrecadação tributária comprometida e consequentemente sua receita, tendo em vista a queda da atividade econômica. A solução viria da impressão de moeda e aumento de déficit orçamentário, de início, essa ideia pareceu absurda, já que impressão de moeda e aumento de déficits ocasionam pressão inflacionária.

    No entanto, em períodos de crise não há pressão sobre os preços pois o consumo está drasticamente reduzido, assim poderia haver estímulos através da injeção de dinheiro na economia, seja através de construção de grandes obras públicas que geraria empregos, ou mesmo, com oferta maior de crédito paras os empresários que estavam à beira da falência.


      Dessa forma, o Governo do Roosevelt seguindo os conselhos de Keynes interviu na crise de 1929, adotando o Newdeal , que foi um grande programa de medidas econômicas e sociais , tirando assim o país de uma crise sem precedentes no capitalismo moderno.

    Desde então, Keynes passou a ser uma espécie de oráculo – pelo menos até década de 70 e voltando em 2008 mediante a crise do subprime nos EUA - para os formuladores de política econômica das grandes potências mundiais, o pensamento liberal já não correspondia a realidade ou muito menos servia de pano de fundo para formulação de políticas econômicas.


    Antes de morrer foi protagonista das principais discussões e debates da economia global, dentre eles, o Encontro de Bretton Woods em Julho de 1944, onde foi formulado um novo modelo relações econômicas internacionais e criado o FMI e o BIRD (Banco Internacional para o Desenvolvimento).

   Ainda, muito que embora sejam teóricos que acabaram sendo rivalizados entre aqueles que defendem o livre mercado com vistas para o lado da oferta, para com os que defendem o intervencionismo com vistas para o lado da demanda, tanto o pensamento de Jean Baptiste Say como o de Jonh Maynard Keynes, em dados momentos e circunstâncias foram e são, ainda, de grande valia para o progresso do pensamento econômicos e da economia política como todo.
 

REFERENCIAS

KEYNES, Jonh Maynard. Teoria Geral do emprego, do juro e da moeda.

SAY, Jean –Baptiste. Tratado de Economia Política